O maior desejo do Padre Cícero foi finalmente realizado hoje com a
divulgação oficial pelo bispo D. Fernando, durante a celebração da missa
na Sé Catedral de Crato em regozijo pela passagem do Ano Santo (ou
Jubileu) e Abertura da Porta Santa da Catedral do Crato de uma carta de
reconciliação da Igreja com o Padre Cícero.
De acordo com o documento divulgado, Padre Cícero tem suas virtudes
exaltadas e as romarias por eles estimuladas em devoção a Nossa Senhora
das Dores são igualmente valorizadas. Agora, com a existência dessa
carta em que a Igreja se reconcilia com o Padre Cícero, quem ousar falar
mal dele, apresentando-o como herege e embusteiro, estará simplesmente
fazendo papel de ignorante ou despeitado, pois nenhuma dessas
acusações, antes aceitas pela Igreja, faz mais sentido doravante.
A partir de hoje a Igreja reconhece oficialmente o filho mais ilustre
de Crato e o fundador de Juazeiro como um sacerdote íntegro, virtuoso,
um exemplo a ser seguido pelas suas decantadas e autênticas virtudes.
Por isso, Juazeiro e toda a Nação Romeira estão em festa, exaltando o
tão esperado evento, com certeza um dos mais significativos da biografia
do Padre Cícero.
Estão assim compensadas todas as orações feitas pelos devotos e os
esforços empreendidos pelo bispo, os membros da comissão que elaborou o
projeto de pedido de reconciliação, os padres e as autoridades em geral
que formaram uma verdadeira corrente de fé em prol da consecução do
objetivo, o maior desejo do Padre Cícero.
No céu, com certeza, ele está comemorando a vitória junto com seus
amigos que estão lá. O professor José Marrocos, então, deve estar
vibrando tanto quanto o Padre Cícero.
Finalmente a biografia do Padre Cícero está como ele desejava, à altura
da Igreja que tanto amou e da religião que professou e foi um dos seus
grandes propagadores no Nordeste. Sua memória não pode mais ser
vilipendiada pelos inimigos gratuitos. Todos os seus devotos e
admiradores estão verdadeiramente felizes porque ele é mesmo como
acreditavam: um padre virtuoso, incapaz de praticar qualquer veleidade
contra a sua Igreja.
Portanto, hoje é dia de festa, vamos comemorar! Parabéns, Padre Cícero.
Obrigado, Papa Francisco. Obrigado, D. Fernando. E agora, vamos todos
cantar: “Viva meu Padim, viva meu Padim, Ciço Romão!”
Abaixo fotos da missa clicadas por Elizangela Santos do jornal Diário do Nordeste
Abaixo fotos da missa clicadas por Elizangela Santos do jornal Diário do Nordeste
CRONOLOGIA DO MARTÍRIO DO PADRE CÍCERO
- 4 de novembro de 1889. Inconformado com as notícias veiculadas na
imprensa sobre os milagres o Bispo Dom Joaquim envia carta a Padre
Cícero na qual o proíbe expressamente de fazer qualquer manifestação
pública sobre o assunto.
- 6 de agosto de 1892. Através de Portaria o bispo D. Joaquim suspende o
Padre Cícero das faculdades de confessar, pregar e administrar
sacramentos. Esta foi a primeira pena grave imposta oficialmente a ele
como desdobramento das investigações dos fenômenos ocorridos no povoado
de Juazeiro a partir de 1º de março 1889, denominados popularmente de
Milagres da Hóstia.
- 13 de abril de 1896. O bispo dom Joaquim aumenta a punição ao Padre Cícero e o proíbe de celebrar Missa.
- 10 de fevereiro de 1897. O Santo Ofício emite um novo Decreto, agora
proibindo a permanência de Padre Cícero em Juazeiro, sob pena de
excomunhão. Temeroso de incorrer na pena de excomunhão, em 29 de junho
de 1897 ele resolve sair do povoado e vai para Salgueiro.
- 22 de junho de 1898. Após cinco interrogatórios os cardeais do Santo
Ofício decidem absolver o Padre Cícero das censuras até então impostas,
mas ele permanece com a proibição de pregar, confessar e dirigir as
almas e é aconselhando a procurar outra diocese.
- 5 de setembro de 1898. Após vários requerimentos enviados ao Santo
Ofício para regularizar sua situação ele consegue autorização e com
muita alegria celebra Missa na Capela de São Carlos em Roma. E os
cardeais foram mais benevolentes ainda, pois lhe concederam também
permissão para celebrar durante a viagem de volta ao Brasil.
- 15 de novembro de 1898. Padre Cícero se apresenta a Dom Joaquim em
Fortaleza e lhe informa que fora absolvido em Roma. Mas o bispo,
certamente insatisfeito com a decisão do Santo Ofício, foi implicante
mais uma vez e não permite que ele celebre em Juazeiro.
- 12 de julho de 1916. O Santo Ofício declara o Padre Cícero incurso na excomunhão latae sententiate.
Em 27 de julho de 1916 o cardeal Merry Del Val comunica o fato
oficialmente ao Núncio Apostólico, Dom José Anversa. D. Quintino, bispo
do Crato, só tomou conhecimento desse documento no dia 14 de abril de
1917, portanto nove meses depois da sua publicação. E só resolveu
comunicar por carta ao Padre Cícero no dia 29 de abril de 1920, portanto
três anos depois. Padre Cícero não chegou a receber essa carta porque
Dr. Floro foi quem a viu primeiro e diante do conteúdo exposto achou por
bem não lhe entregar, pois achava que em face da avançada idade Padre
Cícero não estava em condições de saúde e psicológicas para suportar
tamanho baque. E foi isso mesmo que Dr. Floro informou ao bispo,
conseguindo convencê-lo a não dar conhecimento da gravíssima pena de
excomunhão a que padre Cícero incorreu. Dom Quintino tinha, então, um
documento provando que Padre Cícero estava excomungado, mas mesmo assim
deixou que ele continuasse celebrando missa fora de Juazeiro. Ele
celebrava no sítio Saquinho, município do Crato.
- No dia 1º de janeiro de 1917, estando excomungado, mas sem saber,
Padre Cícero recebe autorização do bispo para celebrar Missa na capela
de Nossa Senhora das Dores, onde deixara de celebrar desde o dia 6 de
agosto de 1892.
Tudo corria mais ou menos normal entre Padre Cícero e o bispo Dom
Quintino. Mas no dia 2 de junho de 1921 Padre Cícero lhe escreve uma
carta pedindo autorização para ser padrinho de batismo de uma criança,
filha legítima do Sr. Antônio Luiz de Assis Chitafina e Lucila Tenório
de Assis, residentes em Juazeiro. Para sua surpresa, Padre Cícero
recebeu a seguinte resposta:
“Visto como o Revdmo. suplicante não está cumprindo exatamente todas as
cláusulas das declarações que em Dezembro de 1917 depositou em nossas
mãos, depois de serem lidas em público; e não só está fomentando a venda
e divulgação das medalhas proibidas (quais são as que têm a sua
efigie), mas frequentando o estabelecimento do vendedor e benzendo-as,
como ainda a certa mulher que deixou de confessar-se para casar por ter
declarado que acreditava "Nos milagres do sangue precioso do Juazeiro"
aconselhou-lhe que fosse para Cajazeiras, da Paraíba, onde há trabalhos
públicos, e depois de algum tempo de estadia ali, efetuasse, lá mesmo,
seu casamento; não podemos dar licença ao mesmo suplicante para
apadrinhar crianças e nem lhe conceder uso de ordens nesta diocese.
Crato, 3 de junho de 1921
Ass. Quintino, bispo diocesano”.
Segundo escreveu Amália Xavier de Oliveira em seu livro O Padre Cícero
que eu conheci, “este despacho só chegou ao conhecimento do Padre Cícero
no dia 4 de junho, quando ele já havia celebrado, sem o saber, sua
última Missa”.
Apesar de muita gente ter o bispo dom Quintino como algoz e inimigo do
Padre Cícero, ele, na verdade foi muito benevolente para com o Padre
Cícero e até escreveu ao Papa pedindo a sua reabilitação.
No dia 23 de fevereiro de 1921, o Santo Ofício analisou a solicitação de
Dom Quintino ao Papa, que pede a absolvição das censuras e a permissão
de celebrar, e resolveu atender apenas à primeira parte (absolvição das
censuras, aí incluindo a excomunhão), mas não concedeu o direito de
celebrar, podendo o Padre Cícero receber os sacramentos como simples
leigo. Também é feita mais uma vez a recomendação de ele deixar
Juazeiro.
- 3 de junho de 1926. Como Padre Cícero adotou a opção de permanecer em
Juazeiro Dom Quintino acatando determinação do Santo Ofício o suspende
novamente, retirando-lhe o uso de ordens. Foi esta a última e
definitiva punição.
E foi nessa situação – suspenso de ordens e não excomungado - que Padre
Cícero encerrou seus últimos dias de vida, em 20 de julho de 1934.
E agora em pleno Ano Santo a Igreja se reconcilia com o Padre Cícero, pondo fim ao martírio que ele suportou até morrer.
HOMILIA DE D. FERNANDO NA ABERTURA DA PORTA SANTA NA CATEDRAL
Amados irmãs e irmãos,
presbíteros de nossa Igreja particular de Crato, diáconos, religiosas e religiosos,
seminaristas, colaboradores,
Prezados Diocesanos
A Liturgia deste 3.º Domingo do Advento é um convite solene e insistente
à verdadeira alegria. O texto da carta aos Filipenses, proclamado na
segunda leitura, deu a este domingo o nome Gaudete, ou seja,
Alegrai-vos. Ainda mais, com a abertura da Porta Santa da Misericórdia
na nossa Catedral , a Igreja particular de Crato quer renovar a sua
vocação de Povo de Deus em romaria para a plenitude da vida e da
salvação em Cristo, do qual a Porta Santa é símbolo . Jesus é a Porta,
Ele está no meio de nós, ama-
nos e, apesar dos nossos descaminhos, insiste em nos amar.
O Jubileu extraordinário da Misericórdia convida-nos para não desistir
do caminho da esperança, da conversão e da alegria. Jesus nos lembra que
a sua Porta é estreita e que precisamos esvaziar-nos de nós mesmos,
para entrar no Reino dos céus. A Porta da Misericórdia é Cristo; por Ele
nos tornamos o seu Povo e o seu rebanho. Somos Igreja em caminho,
seguidores de Cristo. Se somos conduzidos pelo Espírito de Deus, não
podemos nos deixar levar pela ansiedade, a inquietude e o pessimismo,
que é uma espécie de miopia do coração que nos torna profundamente
negativos ao julgarmos pessoas que temos dificuldade de aceitar, de
compreender e perdoar.
Infelizmente, a nossa Diocese não escapa a esta visão pessimista que nos
últimos anos vem nos atrapalhando na nossa missão evangelizadora.
Existem feridas que nossos pecados produziram no tecido da nossa Igreja
diocesana. Estas feridas exigem gestos sinceros de humildade e
reconciliação, de ambas as partes. De minha parte, peço perdão a Deus e
a vós irmãos; reconheço minha fraqueza, fragilidade e pecado. Abrindo a
Porta Santa do Ano da Misericórdia, perguntemo-nos: como Deus poderá
fazer-se encontrar por nós, quando o caminho do nosso coração está
fechado com cadeias de intolerância, de prepotência, de incompreensão?
Tomemos consciência de que Deus nos ama muito, para além das nossas
falhas e fraquezas, e que o seu amor nos transforma, nos torna menos
egoístas e mais humanos. O que renova o mundo e o transforma não é o
medo, mas o amor. O medo provoca insegurança, pessimismo, angústia,
sofrimento, bloqueios, fechamentos; o amor é que faz crescer, cria
dinamismos de superação, nos torna mais humanos, nos faz confiar e
realiza o encontro e a comunhão…
São palavras do Papa Francisco na Bula de proclamação deste ano da misericórdia:
“Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de
alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é
a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é
o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro.
Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa,
quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.
Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o
coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do
nosso pecado”.
Hoje, por ocasião da abertura solene da Porta Santa da Misericórdia
nesta Catedral de Nossa Senhora da Penha, quero anunciar com alegria, à
querida Diocese de Crato e aos romeiros e romeiras do Juazeiro do Norte,
um gesto concreto de misericórdia, de atenção e de carinho por parte do
Papa Francisco para nós: A IGREJA CATÓLICA SE RECONCILIA
HISTORICAMENTE COM O PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA.
Recebi no mês passado uma longa carta - mensagem do Secretário de Estado
de sua Santidade, o Cardeal Pietro Parolin, redigida por expressa
vontade do Papa Francisco. Ele pede a mim que dê uma justa interpretação
ao texto e que o apresente à Diocese e a todos os romeiros. Isso faço
agora. Convido a todos vocês a também fazerem uma justa interpretação,
procurando apoiar e promover a unidade de todos na mais autentica
comunhão eclesial.
Partilho com vocês, de antemão, queridos padres e irmãos e irmãs
presentes, esse documento “histórico”, a pedido expresso do Santo Padre,
que lhes envia uma fraterna e calorosa saudação e bendiz a Deus “pelos
luminosos frutos de santidade que a semente do Evangelho faz brotar
nessas terras abençoadas” do nordeste.
De imediato quero esclarecer que esse documento é a proposição
definitiva e solene de “reconciliação histórica” da Igreja com Padre
Cícero, por reconhecer nele “virtudes humanas, sacerdotais e
apostólicas” que devem ser valorizadas. Não se trata, portanto, de
“reabilitação canônica”. E gostaria de dizer também que é motivo de
alegria o que este ato de reconciliação sugere: a profunda comunhão com o
sucessor de Pedro, pois ele nos remete à minha Carta Pastoral “Romarias
e Reconciliação”, publicada em 2003. No próximo dia 20, levaremos a
mensagem do Papa ao conhecimento da nação romeira em Juazeiro, quando da
Missa em memória do Pe. Cícero.
O Papa Francisco, no seu incansável dinamismo missionário, percebe com
clareza o quanto a memória do Padre Cícero dinamiza ainda hoje a vida
pastoral e religiosa do Brasil, especialmente do Nordeste. E ressalta
“os bons frutos que os romeiros vivenciam ao peregrinar a Juazeiro,
atraídos pela figura desse sacerdote.”
“É louvável”, diz a Mensagem, como a Diocese de Crato, “incorpora,
integra e evangeliza” as grandes romarias, “acolhendo e animando o
romeiro em sua vida cotidiana”, “traduzindo, em cantos de romaria”, com
palavras do próprio Padre Cícero, o conteúdo da fé e da moral cristã:
“Quem matou não mate mais.... , quem roubou, não roube mais!
Todas as Dioceses do Nordeste foram lembradas pela Mensagem que diz: a
associação das outras Igrejas particulares do nordeste, fontes primárias
das romarias, à Diocese de Crato nesse modo particular de
evangelização, tem-se mostrado eficaz e deve ser apoiada e estimulada.
Já se percebe que o realce que se quer dar a esta Mensagem é a ligação
direta entre Padre Cícero e a Nova Evangelização, pois o apresenta como
um modelo de sacerdote numa Igreja “em saída”, que acolhe a todos,
especialmente os pobres e sofredores, e este é um sinal importante,
especialmente nos dias de hoje, pois experimentam a misericórdia de Deus
através do Padre Cícero.
Podemos então aclamar com o Profeta Sofonias, inspirados na segunda
leitura da Missa deste Terceiro Domingo de Advento: “Canta de alegria,
Diocese de Crato; rejubila, povo nordestino; alegra-te e exulta de todo
coração, povo brasileiro! “.
Segundo as palavras de Jesus, sabemos que “Toda arvore é reconhecida
pelo seu fruto” (Lc 6,44). Nesta certeza, o Santo Padre não quis
deter-se em questões polêmicas do passado, mas foi logo, em sua
avaliação, ao centro, à figura sacerdotal do Padre Cícero. Poderíamos
parafrasear a afirmação de Jesus: Provando o sabor dos frutos que
amadurecem até hoje, e que são resultado da ação Pastoral do Padre
Cícero, o Papa Francisco se pergunta: “Esse Padre chamado carinhosamente
pelo povo de ‘Padim’: é arvore boa ou ruim?”
Papa Francisco apresenta o Padre Cícero como um modelo de sacerdote numa
Igreja “em saída”, para os tempos atuais e a Nova Evangelização.
O documento é mais incisivo ainda quando lembra que Deus sempre se serve
de pobres instrumentos para realizar suas maravilhas. Somos todos,
“vasos de argila”: (2Co 4,7) que guardam os tesouros de Deus. Nosso
querido Padre Cícero não é exceção a esta regra e, como todos nós, não
foi privado de fraquezas e de erros, mas isso apenas mostra que e mostra
que “o poder que a tudo excede, provém de Deus, e não de nós” (2Co
4,7).
Por meio de seu Secretário de Estado, o Papa Francisco afirma, “sem
dúvida alguma, que Padre Cícero, pelo seu intenso amor pelos mais pobres
e por sua inquebrantável confiança em Deus, foi este instrumento
escolhido por Ele.” Por isso, o Santo Padre nos convida a agradecer ao
Senhor por todo o bem que Ele suscitou por meio do Padre Cícero que, diz
de novo o texto, “sem dúvidas” foi movido por um desejo sincero de
instaurar o Reino de Deus.
Essa afirmação do Papa Francisco nos enche de uma profunda alegria
quando lembramos as palavras de Jesus sobre o Juízo final (Mt: 25,
31-46) Sim, todos nós, seremos julgados pelos nossos gestos concretos de
Amor e de Misericórdia, e nada mais!
O documento ainda ressalta como qualidades do Padre Cícero, o profundo
amor a Nossa Senhora das Dores e das Candeias, a oração e o respeito aos
mortos, o amor e o respeito à Igreja Católica e a seus ministros.
E observa que “Este dado positivo, eminentemente religioso, justifica a
ação pastoral que essa Diocese de Crato presta ao fenômeno religioso de
Juazeiro do Norte, que tem sua origem, justamente na ação do Padre
Cícero.”
Caros Padres, querida Diocese de Crato: fomos justificados pelo Papa
Francisco. Nós não nos equivocamos assumindo a opção pastoral em favor
das romarias e do acolhimento aos romeiros . O Papa nos diz que agindo
assim, fica garantida a reta orientação eclesial a todos os que se
sentem ligados ao Padre Cícero, na região nordeste e em todo Brasil.
Como são reconfortantes e animadoras as palavras do Papa São Paulo II
por aqueles de nós que já experimentaram em sua vida que “Deus escreve
certo por linhas tortas”! Sim, Deus se serve de nós, instrumentos
imperfeitos para realizar a Sua obra! Santo é seu Nome e sua
Misericórdia é para sempre!
Como Bispo Diocesano dessa Igreja particular, fico feliz por poder
receber essa grande graça, em nome do Padre Cícero e de seus romeiros e
romeiras, em nome de todos aqueles bispos – Dom Quintino, Dom Delgado –
que alguma vez pediram que a Igreja e Padre Cícero se reconciliassem, em
nome de todas as pessoas que queriam ver o Seu Padrinho ser, de novo,
acolhido pela Igreja Católica da mesma forma que sempre foi acolhido por
seus afilhados!
E é justo que também o Pe. Cícero, hoje, enfim reconciliado com a Igreja
católica, passe pela Porta Santa, como todos nós, entrando nesta
Catedral aonde ele foi batizado e celebrou sua Primeira Missa. Ele vai
entrar como romeiro. Seu lugar não será ainda o Altar, mas ficará no
meio do Povo, invocando e cantando conosco a misericórdia do Pai.
Peço a Deus que, no Ano Santo da Misericórdia, desça em profusão sobre
nossa Diocese a Misericórdia divina , a graça da união, dom do Espírito
Santo, para promover em nossas diferenças a “cultura do encontro”, no
respeito recíproco e na verdade da justiça.
Virgem Maria, Mãe de Misericórdia, Nossa Senhora da Penha, estes teus
olhos a nós volve, teus devotos. Somos filhos. Os nossos rogos ouve, ó
Mãe do Redentor. “Amor e Verdade se encontram, Justiça e Paz se abraçam;
da terra germinará a Verdade, e a Justiça se inclinará do céu.” (Sl
85,10). Sejamos misericordiosos como o Pai.
+ Dom Fernando Panico
Sobre a Reconciliação histórica da Igreja Católica com a memória do Padre Cícero Romão Batista
Em longa correspondência enviada ao Bispo Diocesano de Crato, Dom
Fernando Panico, o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro
Parolin, afirmou que: “A presente mensagem foi redigida por expressa
vontade de Sua Santidade o Papa Francisco, na esperança de que Vossa
Excelência Reverendíssima não deixará de apresentar à sua Diocese e aos
romeiros do Padre Cícero a autentica interpretação da mesma, procurando
por todos os meios apoiar e promover a unidade de todos na mais
autentica comunhão eclesial e na dinâmica de uma evangelização que dê
sempre e de maneira explicita o lugar central a Cristo, principio e meta
da História”.
A mensagem lembra, inicialmente, as festas pelo centenário de criação da
Diocese de Crato acrescentando “que (essas comemorações) põem em realce
a figura do Padre Cícero Romão Batista e a nova Evangelização,
procurando concretamente ressaltar os bons frutos que hoje podem ser
vivenciados pelos inúmeros romeiros que, sem cessar, peregrinam a
Juazeiro atraídos pela figura daquele sacerdote. Procedendo desta forma,
pode-se perceber que a memória do Padre Cícero Romão Batista mantém, no
conjunto de boa parte do catolicismo deste país, e, dessa forma,
valoriza-la desde um ponto de vista eminentemente pastoral e religioso,
como um possível instrumento de evangelização popular”.
Lembrando que Deus sempre se serve de pobres instrumentos para realizar
suas maravilhas e que todos nós somos “vasos de argila” (2Co 4,7) em
Suas mãos, o texto afirma, sem dúvida alguma, que Padre Cícero, pelo seu
intenso amor pelos mais pobres e por sua inquebrantável confiança em
Deus, foi esse instrumento escolhido por Ele. O Padre respondeu a este
chamado, movido por um desejo sincero de estender o Reino de Deus.
Na correspondência constam vários tópicos, dos quais alguns são reproduzidos, a seguir, textualmente:
“Mas é sempre possível, com a distância do tempo e o evoluir das
diversas circunstâncias, reavaliar e apreciar as várias dimensões que
marcaram a ação do Padre Cícero como sacerdote e, deixando à margem os
pontos mais controversos, por em evidência aspectos positivos de sua
vida e figura, tal como é atualmente percebida pelos fiéis”.
† “É inegável que o Padre Cícero Romão Batista, no arco de sua
existência, viveu uma fé simples, em sintonia com o seu povo e, por isso
mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo povo”.
† “Deixou marcas profundas no povo nordestino a intensa devoção do
Padre Cícero à Virgem Maria” no seu título de “Mãe das Dores e das
Candeias” (...) Como não reconhecer, Dom Fernando, na devoção simples e
arraigada destes romeiros, o sentido consciente de pertença à Igreja
Católica, que tem na Mãe de Jesus Cristo um dos seus elementos mais
característicos?
† “A grande romaria do dia de Finados, iniciada pelo Padre Cícero,
transmite a dimensão escatológica da existência humana. Pois, como
afirma o documento de Aparecida, Nossos povos (...) têm sede de vida e
felicidade em Cristo. (...)
† “Não deixa de chamar a atenção o fato de que estes romeiros,
desde então, sentindo-se acolhidos e tendo experimentado, através da
pessoa do sacerdote, a própria misericórdia de Deus, com ele
estabeleceram – e continuam estabelecendo no presente – uma relação de
intimidade, chamando-o na carinhosa linguagem popular nordestina de
“padim”, ou seja, considerando-o como um verdadeiro padrinho de batismo,
investido da missão de acompanhá-los e de ajuda-los na vivência da sua
fé”.
† “No momento em que a Igreja inteira é convidada pelo Papa
Francisco a uma atitude de saída, ao encontro das periferias
existenciais, a atitude do Padre Cícero em acolher a todos,
especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os,
constitui sem dúvida, um sinal importante e atual”.
† “O afeto popular que cerca a figura do Padre Cícero pode
constituir um alicerce forte para a solidificação da fé católica no
ânimo do povo nordestino (...). Portanto, é necessário, neste contexto,
dirigir nossa atenção ao Senhor e agradecê-lo por todo o bem que ele
suscitou por meio do Padre Cícero”.
† “Assim fazendo, abrem-se inúmeras perspectivas para a
evangelização, na linha desta recomendação do Documento de Aparecida;
“Deve-se dar catequese apropriada que acompanhe a fé já presente na
religiosidade popular”. (Documento de Aparecida, 300).
† “Ao mesmo tempo que me desempenho da honra de transmitir uma
fraterna saudação do Santo Padre a todo o povo fiel do sertão do Ceará,
com os seus Pastores, bendizendo a Deus pelos luminosos frutos de
santidade que a semente do Evangelho faz brotar nestas terras
abençoadas, valho-me do ensejo para lhe testemunhar minha fraterna
estima e me confirmar de Vossa Excelência Reverendíssima devotíssimo no
Senhor
Pietro Cardeal Parolin
Secretário de Estado de Sua Santidade
Vaticano, 20 de outubro de 2015.
Fonte do Portal do Juazeiro
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